quarta-feira, agosto 31, 2005

Vagando

Valores amargos fazem parte do dia-a-dia
Vazando o tempo pelas beiradas da nossa vida
Vendo passar a juventude gelada e frígida
Velozmente perdendo ar para o universo
Avolumando matéria no tempo imerso
No vazio do oceano das nossas existências
Veementemente questionando nossas certezas
Vivamente nos adocicamos na imensa
Vaga imensidão dos pensamentos humanos
Voltando inerciamente para o eterno
Valendo um beijo sabor inverno para
Valentes pessoas que saciarem suas angustias
Invocando amargos sons mudos da nossa mente
Verbalmente inexistentes nas unhas e garras
Vorazes das feras ferozes dos nossos sentimentos
Vridados em nossas ignorâncias cegas de
Vermes fédidos e nojentos do excremento.

terça-feira, agosto 23, 2005

O Cego

Vivia cego todos os dias da sua vida
Amando a realidade que não podia ver
Desejando acima de tudo existir
Numa paz utópica; seguro em seu mundo
Sentia o frio, sentia o calor
Sentia os sons, sentia o que não via
Amava a sua incapacidade
Pois sentia que via a verdade
Não com os olhos,
Mas com todos os outros sentidos
E o mundo dele não era redondo ou azul
Não era um ponto no universo
Era algo que nem eu sei dizer
Nesse seu outro mundo -
Cego desde que nasceu -
Era mais feliz do que muitos que vêem
Mas que não sentem. Mortos na sua realidade
Perdidos em suas curtas vidas visionadas.
Que contradição trago-vos, meus leitores
Quem não vê, vê. Quem vê, não vê.
Não posso fazer nada a não ser aceitar
Essa verdade incontestável.

O Pato Malvado


Numa época de terror
Eis que surge um pato
Frívolo, queimado, um horror
Viajando por entre o mato
O bicho te atinge
Pega-te pelo rabo
Cai no chão e finge
Que morreu, mas
O morto é você
Otário-pato!

Bicho estranho esse pato
Fanho e malvado
Mata por prazer - no mato
Outro dia foi o Sr. Cevado
Seu sangue jorrou pro lado
Sujou todo o meu chão!
Cevado, querido, tenha cuidado!
Eu não suporto que sujem o meu chão!
E não adianta argumentar
Não me importa se morreste ou não!
O problema está em sujar
O meu amado alçapão!

quinta-feira, agosto 18, 2005

Mentiras Verdadeiras

Se tudo fosse verdade
A verdade seria mentira
Os filósofos correriam atrás
Das verdadeiras verdades
Que seriam mentiras
E, então, nem tudo seria verdade mais
O mundo se corromperia
Tornar-nos-íamos imperfeitos
Viveríamos na dúvida
Buscando verdades
Que podem ser mentiras
Então viveríamos como
Vivemos hoje - sem saber.
Sem saber se é verdade ou mentira.
Sem saber se é verdade mentirosa
Ou se é mentira verdadeira.
Sem saber - sem saber escolher.

domingo, agosto 14, 2005

Velhos Poemas

Sem título

Segunda recomeça a rotina
Mais uma vez inicia-se denovo
Novamente; esquecer-se da sina
da linda vida de todo um povo

Um suspiro me separa
Da tristeza, do antigo
Não vejo nem raparo
O começo primitivo

Meu Deus! Foi como um sonho
Parece que acordei
Afinal, levantei?
Cara, quantos hormônios!

Sem título 2

Nas salas retangulares das escolas
Perdemos tempo com fúteis aulas
minuto a minuto, hora a hora
rapidamente envelhecemos na jaula.

Como pedras na praia
Ficamos a esperar
Milagre que caia
Do céu, sem lembrar
De agir, de fazer.

Que tédio sem noção
Que louca saudade
Quero tomar uma poção
Para desaparecer e em idade
qualquer ao seu lado viver.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Extinção

Cinza céu com verdes árvores
Rosas, roxas flores, afinados pios
de pássaros de todas as cores.
Desta janela vejo um mundo
Um mundo perdido, escondido
No meio de uma cidade
No canto obscuro dessa escola -
Ainda não somos apenas poluição
Ainda não somos apenas ignorância
Existe um lugar como esse
Que torna a vida humana
Não tão ruim, não tão má.
Porém, de tanto poluirmos
tornaremo-nos espéctros
de nós mesmos -
mataremo-nos a si mesmos
e livraremos, apesar de tudo,
o mundo da nossa crueldade.