domingo, outubro 19, 2008

Dia Mundial da Chuva

“Está sendo celebrado hoje o Dia Mundial da Chuva. Em São Paulo, o ato reuniu cerca de 50 mil pessoas na Praça da Sé, onde diversas manifestações artísticas que têm como tema a chuva se apresentaram e se apresentarão durante todo o dia e também a noite. Neste momento, como pode ser visto, o grupo Ximbira, do alto Xingu, está em performance no palco, em reprodução da legendária dança da chuva. Já no Parque do Ipiranga, na zona sul da cidade, houve um grande ato artístico que uniu público e palco: o grupo pós-teatral Juru-key, em parceiria com a prefeitura, despejou cerca de 100 trilhões de litros de gotas d’água, o que criou uma chuva artificial durante aproximadamente 4 horas. Nesse período, os artistas interagiam com o público numa grande gincana em que a diversão e a bagunça estiveram garantidas. Na Biblioteca Monteiro Lobato, no centro da cidade, a criançada se divertiu pintando telas com a temática, escrita por Giulia T., a vencedora do ano passado que conheceu a Indonésia nas últimas férias de verão (foi o prêmio daquele ano), “chuva chove chovendo – chevete canivete valete” e, claro, escrevendo frases que concorrerão para ser a temática do ano que vem. Os três primeiros colocados ganharão uma viagem à Escócia. O projeto, organizado pela ONG VivaChuva, inclui ainda a exibição de todo o material artístico ao redor da cidade, equipado especialmente para ser à prova d’água.

“Se em São Paulo é só festa, em Salvador, Bahia, o dia foi marcado por protestos. O Movimento dos Sem-Chuva (MSC) promoveu uma passeata contra a má distribuição das precipitações pluviométricas. A bandeira do movimento foi 'Dia mundial do DIREITO à chuva', e seus líderes marcaram uma audiência com o presidente para logo depois da chuva.

" 'Estamos confiantes com as recentes deliberações do governo e acreditamos que, se tudo se encaminhar desta forma, em 3 anos 80% das famílias brasileiras terão alguma forma de acesso a chuva pelo menos 3 vezes ao ano, patamar superior ao de muitos países desenvolvidos', argumentou Luiz Henrique Fernandez, líder do movimento desde 1998.

“Fora do Brasil também houve muitas festas e polêmicas. Em Varsóvia, capital da Polônia, fogos de artíficio que se assemelham a chuva colorida foram o auge de uma festa altamente pirotécnica que será ainda lembrada com muito carinho pelos seus habitantes. Já em Nova Orleans o dia, ao invés do que se poderia imaginar, se passou sem grandes protestos; ao contrário, os revoltados deram trégua às autoridades locais que participaram de solenidades em memória aos trágicos acidentes naturais que vêm assolando a cidade.

“Em Moscou 8 pessoas ficaram feridas quando o prédio da ONU foi atacado com coquetéis molotov e bombas caseiras na passeata ‘Pelo dia mundial da neve’, idéia audaciosa que nasceu em 1999, quando foi criado o Feriado Municipal do Boneco de Neve. Neste havia série de competições e gincanas ligadas a esta arte. Foi só em 2004 que a festividade pública se universalizou e tornou-se Feriado Municipal da Neve, em que as competições e gincanas foram extendidas a toda e qualquer forma de expressão artística por meio da neve.

“Teremos agora um rápido intervalo e em poucos instantes voltaremos com mais notícias sobre este dia: Paris e o quadro de 500 m² de uma nuvem, o teto que chove sem molhar numa casa em Lippsala, Suécia, e o obscuro padroeiro cego de Gonzaga, Minas Gerais, que afirma que a chuva é a fala de Deus em braile.”

sábado, outubro 18, 2008

Incomodo

(continuação de Inconveniente, logo ali em baixo)

– Uma moeda a mais é um dia a menos.

Seus sujos olhos, então, voltaram a mirar o infinito inexistente e eu com meus passos falsamente seguros segui naquela trilha que nem sei pra onde levava. Normalmente sentiria vontade de cantarolar uma música, provavelmente do Chico, às vezes do Jim; mas não dessa vez. Ah, é que não sentia vontade de nada, só queria entrar na minha casa, trancar bem a porta e deitar na cama seguro de que aquilo – aquilo – não tinha passado de um sonho; é que tantas vezes isso me aconteceu, como daquela que atropelei um cachorro...


Naquele dia desci sem pressa o elevador, com um friozinho na barriga; é que estava indo para uma prova! Entrei no carro como sempre entrava em qualquer outro dia, e saí da garagem como se fosse um dia qualquer. Acenei ao porteiro, que sorriu e acenou para mim. Ah! quanta harmonia naquela orquestra de pedais e direção.

O farol fechou – parei. O farol abriu – acelerei.

Aquela rua estreita irritava-me profundamente; carros estacionados dos dois lados e só um carro podendo passar por vez naquela trilha asfaltada – melhor acelerar e passar rápido – e carros vindo na direção contrária.

Foi já lá na frente, depois daquele cruzamento traiçoeiro que ninguém respeita a
minha preferência, que acelerei um pouco mais; era uma pequena subida, subidas sempre exigem autoridade.

O automóvel, já aos seus 60 km/h, naquela rua estreita com carros parados dos dois lados e aproximando. Aproximando?

Um animal todo branco, todo ingênuo, andando despreocupadamente à minha frente; por um momento pensei: Acelero? Breco? Buzino? E então já era tarde demais; ouvi indiferente os seus gemidos – foram dois – e aguentei impassível o duplo tranco como se estivesse retirando os cisos. Meu coração bateu forte, fiquei sem reação. Por inércia, o carro não parou, nem eu parei. Por que pararia? Já no próximo farol sentia apenas a sensação de ser uma daquelas minhas fantasias e me censurava por ter me desconcentrado da minha prova...


E a essa altura já estava há alguns quarteirões do insolente mendigo, mas ainda inquieto. Meu deus!, como odeio esses seres, precisam sempre nos incomodar com essas lembranças que suscitam tão ardidamente no espírito de homens sensíveis, os quais, seres humanos que são, estão tão aptos a cometerem erros como todos os outros...