domingo, julho 04, 2010

Trânsito

As palavras frequentemente falham naquilo para o qual elas foram inventadas: a expressão. As palavras são inóquas para dizer o essencial: são por vezes banais demais, não se ajustam - ai se entende o silêncio expressivo de Marlarmé; as palavras dizem pelo que não é dito - como, aliás, toda forma de expressão o faz. A expressão é esse dizer algo querendo dizer aquilo outro. E bom sucedido no seu exprimir é aquele que alude - ou ilude? - seus intelocutores a ainda um terceiro significado daquilo que foi dito, sendo este terceiro sentido o sentido mais importante e essencial. Ele é o sentido da expressão, ou, em grande estilo, é o sentido dos sentidos: compreendê-lo é compreender o motivo que levou a tal necessidade de expressão do enunciador. Essa compreensão, contudo, só pode se dar de modo aludido e em íntima conexão com os outros dois significados anteriores. Frequentemente, todavia, não apenas a tais sentidos mais diretos relaciona-se o sentido fundamental do expressado: é a falha do discurso direto, lógico, óbvio que o engendra. Justamente porque a linguagem é falha, o terceiro sentido aparece nela de modo genuíno, na medida em que a falha da linguagem alude à incapacidade expressiva da passagem do Um ao Outro. A linguagem é, pois, aquilo que paradoxal e metaforicamente alude à metáfora, sendo a paradoxa metáfora da metáfora.