sexta-feira, julho 25, 2008

Sulca-te o chão


É esta a solidão que desejas e te agradas? Essa solidão que se diz completa, que é desejo? Que completude é essa de anseio?

Ora corres ao MSN, ora ao orkut. O tédio – seria o tédio? – logo te levas de volta ao livro. Mas antes passas e vês – tentas fazê-los estarem sem estarem – aqueles que inconscientemente pensas. Mas é ao fazê-los estarem que sentes aquela aversão, aquilo que não te completaram tomando – como uma sombra – toda a sensação dos românticos momentos de volúpia e prazer, enxotando-os cruelmente. A situação passa-se a desesperadora, angustiante e, covarde que és, foges para o livro. Ali encontrastes combustível para a leitura. Como que freneticamente, devoras como um animal aquele conteúdo prosaico-imaginativo. Mas o devorar de tal material inextenso atiça-te como um raio demoníaco ao desejo pulsante e em brasas da presença deles. E retorna ao computador, para apenas confirmar a ausência deles. A situação se repete – é um ciclo vicioso. E quando, eventualmente, um aparece, agarras-te como um tamanduá vil a vitalidade – a esperança de vitalidade, de completude – daquela conversa privada-impessoal. E sentes, inexoravel e inevitavelmente a cruel sensação de perda de tempo. Pior; certamente porque nadas tens a falar e te constranges a situação e queres – precisas, urges – falar – algo, algo, precisa sair de ti, ser expelido, ergugitado, como um vômito fedorento – falas-te irracionalmente e te acovardas. Crias ódio. Queres estar solo novamente. Mas uma vez agarrado a tua vítima, a vítima está agarrada a ti. Não pela sua vontade; tu a ela, como uma pedra imóvel és quem estás preso, inerte. E inutilmente zangas-te e te acovardas – falas bugalhos. Ofendes-te. Perdes-te, no momento mesmo que diz achar-te. E, então, alienas-te em teu gozo que é o teu soma – e dorme-te para te acordar insabível que te sabes, acreditando piamente na potencialidade prazeirosa de tua solidão noturna, quando deverias, sim, estar a lutar febril e intelectualmente para estar tola e infantilmente deitado em uma cama de lençóis brancos e suaves cobertas, roçando-te ao corpo Dela, olhos fechados, mente branca, budista. Aí sim repousar-te-ás em solidão e serenidade.

2 comentários:

Giulia T. disse...

gostei, as vezes, sinto o mesmo.. nessas férias, nesse tédio, no msn...

Cau. disse...

Me lembrou Monteiro Lobato.