quinta-feira, fevereiro 28, 2008

A revolução na educação brasileira

Num futuro não muito distante, surgirá a solução final para a educação brasileira: as aulas nas escolas não serão mais ao vivo, mas sim on-line. O funcionamento será muito simples, mas antes é necessário entender o background.
Sem muitas pretensões, os cursinhos já dão aulas via internet[i]. Algum dia, porém, se terá um estalido revolucionário. A coisa se dará do seguinte modo. Um cursinho Anglo ou Objetivo do Acre ou do Piauí despedirá por um motivo x um professor de física. As dificuldades de encontrar um profissional ao nível de excelência da empresa incentivará a famigerada imaginação brasileira (para momentos de dificuldade); por que não “importar” as aulas de um professor de São Paulo? Não seria difícil, já que as aulas já são todas esquematizadas. O professor apenas representa. Pode-se diminuir o número de professores, diminuindo os gastos! Afinal, é só gravar as aulas e enviar via internet. Por que tantos professores se todos fazem a mesma coisa? Um apenas basta. A idéia, diante de tanto otimismo, será testada.
Essa se mostrará satisfatória estatísticamente; os alunos, em média, melhorarão nos simulados e o custo da aula ficará mais baixo! Por isso, começará a ser adotada em relação a outras matérias. Biologia, química, matemática, gramática... o cursinho se tornará pioneiro nas aulas gravadas. Sua produtividade aumentará significativamente. Logo a mídia voltará seus olhos de falcão para o modelo de ensino lucrativo e eficiente. Outros cursinhos, então, adotarão o método. As escolas particulares derivadas de cursinhos, uma a uma, também.
Tal rebuliço, como era de se esperar, atingirá mais dia menos dia o ensino púbico. O ministro da educação aparecerá nas primeiras páginas dos jornais assinando o documento que aprovará a reforma na educação pública brasileira; um passo rumo ao futuro! Nada de professores na sala de aula! Enfim uma finalidade para os computadores da rede pública! As aulas, de então por diante, serão virtuais, terceirizadas dos cursinhos. Pelo projeto, o investimento público em educação cairá significativamente, apesar do investimento inicial. Parcerias público-privadas serão travadas entre empresas fornecedoras de computadores, telões, etc e o governo público. Desta maneira, todos terão acesso a uma educação de qualidade, comum a todos. Finalmente poderá se medir o mérito pessoal – todos assistirão a mesma aula, todos partirão do mesmo patamar. E melhor ainda. Em caso de falta, o aluno pode assistir à aula em casa! Le crème de le crème da educação estará disponível a todos!
Em meio século, a nação brasileira se orgulhará de exportar para o mundo o vitorioso método de educação 100% tupiniquim.

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É claro que em toda mudança sempre alguém sai perdendo: e os professores, que não dão mais aulas? E as dúvidas dos alunos? Muito, muito simples. Os professores (apesar das greves – que não servirão para mais nada – e das passeatas), um a um, vão se sujeitar a ficarem de plantão para tirar dúvidas ou de bedéis nas salas de aula. Se formará um grupo de professores de elite – aqueles que gravam as aulas – e outro de professores plantonistas/bedéis. Ambos os grupos, afinal, numa utopia neoliberal, podem até ser tercerizados.

[i] Ver site http://www.cursoanglo.com.br/webstander/ e ir em TV WEB

4 comentários:

Unknown disse...

meu professor de teologia Antonio Marchionni, velho italiano, já disse isso.

e poderemos assistir as aulas cada um em sua casa, gastando energia elétrica, comprando bons computadores para assistir os vídeos e ainda poderemos conversar assistindo as aulas. não teremos mais o incômodo cheiro do Doritos do colega do lado e "aquelas" piadinhas dos professores serão eternamente guardadas em arquivos de vídeo.

a educação deixará de vez de ser humanista (projeto bobo do governo, não?). as pessoas serão mais objetivas ao aprender, assim como os professores ao ensinar.

alcançaremos o projeto de Augusto Comte: ORDEM E PROGRESSO.

Bacchi disse...

telecurso 2000?

Giulia T. disse...

hahhahhahahah
acredito que não devo levar isso a sério! ahhahhah

Lipão disse...

Novas técnicas de imposição de disciplina teriam de ser inventadas para garantir que, todos os dias, as pessoas assistirão às aulas em seus respectivos computadores. Talvez teletelas à la 1984. Mas é claro que não seriam controladas pelo Estado, mas por empresas privadas.